terça-feira, 27 de outubro de 2009

Não Quero Ser Apóstolo


Ser pastor não basta, ser reverendo caiu de moda, bispo ficou para trás. O negócio mesmo agora é ser apóstolo. A era do espetáculo chegou!

A partir dos anos de 1990 começaram a surgir no meio de alguns círculos “evangélicos”, notadamente no meio “neo-pentecostal”, os chamados apóstolos. No Brasil o número desses “excêntricos” já ultrapassa o número de dedos das mãos.

Mas será que existe alguma base bíblica para a existência do ofício de apóstolos hoje? O que dizer daqueles que se auto-intitulam apóstolos? A palavra apóstolo pode ser usada num sentido amplo ou restrito. Num sentido amplo, apóstolo significa aquele que é “enviado como um missionário pioneiro”. Num sentido restrito, que é o mais comum no NT, refere-se a um ofício específico, que se encerrou no primeiro século.

No Novo Testamento, os apóstolos foram homens autorizados a falarem em nome de Deus de forma absoluta (2 Pe 1:20-21), ou seja, suas palavras escritas foram sopradas diretamente de Deus, inspiradas. Não escutá-los ou desobedecê-los seria semelhante a não escutar e desobedecer ao próprio Deus. Logo, o fato de falarem em nome de Deus de forma absoluta limita esse ofício ao primeiro século, à época da formação do Cânon (coleção de livros da bíblia). Todo apóstolo teria autoridade de acrescentar palavras as escrituras. Como hoje ninguém pode fazer isso, ninguém pode biblicamente ser chamado de apóstolo.

Em segundo lugar, para ser um apóstolo era necessário preencher duas qualificações. (1) Ter visto a Jesus após a ressurreição, ou seja, ser testemunha ocular da ressurreição de Cristo (At 1:22). Em I Co 15:7-9, Paulo defende seu apostolado com base no fato de ter preenchido também esse requisito. (2) Ter sido especificamente comissionado pelo próprio Jesus Cristo como seu apóstolo e ter aprendido dele.

Isso está claro no chamamento dos 12 apóstolos por Jesus (Mt 10:1-7). Quando Judas teve que ser substituído, os 11 apóstolos não tomaram para si mesmos a responsabilidade de escolheram outro apóstolo, mas recorreram ao próprio Jesus para que revelasse quem haveria de substituir a Judas (At 1:24-26). Paulo reforça a necessidade do chamado pelo próprio Jesus para o apostolado quando afirma que o próprio Cristo o designou para apóstolo (At 26:16; Gl 1:1; Rm 1:1). Além disso, Paulo afirma que aprendeu do próprio Jesus.

Mas quantos apóstolos no sentido estrito da palavra existiram? Inicialmente Jesus escolheu a 12. Com a morte de Judas, Matias é escolhido como sucessor (At 1:26). Esse grupo único de 12 apóstolos é tão especial que seus nomes estão escritos nos fundamentos da cidade celestial (Ap 21:14).

Além dos 12 chamados inicialmente, o Novo Testamento nos declara mais três apóstolos convocados pelo próprio Jesus. O primeiro foi Paulo (I Co 15:7-9). Atos 14:14 chama a Paulo e Barnabé de apóstolos. Então, agora, com Paulo e Barnabé temos 14 apóstolos de Jesus Cristo. Um último chamado também de apóstolo é Tiago, irmão de Jesus (Gl 1:19). Ainda em Gl 2:9, Paulo se reporta a Tiago, Pedro e João como coluna da igreja de Jerusalém. Por último, Tiago preside juntamente com Pedro o importante concílio de Jerusalém (At 15:13-21).

Finalmente, parece muito claro o fato de que após o apóstolo Paulo, ninguém mais foi comissionado como apóstolo. Paulo expressou isso quando alista as aparições de Jesus e como Cristo lhe apareceu e afirma que essa foi a “última” aparição, e que ele mesmo é certamente o menor de todos os apóstolos por ter sido o último a ser chamado. (I Co 15:5-9).

É digno de nota também que nenhum dos grandes nomes da igreja, como Atanásio, Agostinho, Lutero, Wesley, Whitefield tomaram para si o nome de apóstolos. Qualquer que hoje toma para si esse título, logo levanta a séria suspeita de que são motivados por orgulho e desejo de auto-exaltação, além do desejo de terem mais autoridade do que os que “simplesmente” são pastores.

Por isso, não quero ser apóstolo.
Soli deo gloria.

Bibliografia consultada
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2003

3 comentários:

  1. Amigo Flávio, parabéns pelo texto. DEUS TE ABENÇOE.

    Alandey

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  2. Olá, Flávio

    Gostei muito do artigo. Estou também de acordo que muitos buscam o título de apóstolo para se enaltecer.

    Fabíola Maia

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  3. Ola Primo Flávio, muito bom a colocação, mas nem Pastor é mais Preciso ser, pois todos o Senhor Jesus os Fez, na antiga aliança a figura do Sacerdote (Pastor) se fazia nescessario, mas apos a Morte na Cruz Ele nós fez a Todos "Pastores de Se Mesmos. Um dia sera revelado a todos isto que vos anuncio.

    Fernando Gadelha.

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